O Jesus dos Evangelhos.
Ele surgiu e atuou durante três anos.
Os evangelistas falam nada ou pouquíssimo sobre sua vida nos trinta anos anteriores. Sabe-se que viveu em Nazaré e que era carpinteiro, filho de Maria e de José. Este dado da paternidade para incluí-lo na linhagem de Davi, de onde viria o messias prometido.
Nos três anos em que atuou, vê-se nos textos com nitidez o que ele fazia:
Curava pessoas de todas as enfermidades. Exorcisava demônios e curava pessoas de perturbações mentais. Ressuscitou pessoas também.
Onde Jesus estava havia muito barulho de pessoas procurando seus milagres instantâneos.
Mas não se identificou apenas como milagreiro e exorcista.
Também alterou o estado das coisas ao transformar água em vinho, andar sobre as águas, dar ordens aos ventos e as ondas para que se acalmassem.
Ensinava sempre. Fazia muito uso da palavra. Os textos dizem que as pessoas se maravilhavam de seu ensino, porque era dado com autoridade. Porque ele não se baseava em nenhuma doutrina conhecida para validar seu ensino. Além disso, ensinava e usava a palavra com graça. Por isto, Foi identificado com os grandes profetas da história de Israel.
Mas ele não assumiu esta identidade, tampouco.
Como mestre ele não pertencia a nenhuma das facções do judaísmo da época. Por isso, todas as facções o perseguiram. Ele não foi encaixado em nenhuma das religiões vigentes, dentro de seu tempo histórico.
Chamavam-no de mestre, rabi, raboni (Maria Madalena no sepulcro), mas não era de nenhuma escola.
Multiplicou pães e peixes e alimentou multidões. Queriam coroa-lo como rei. Ele saiu fora disso. E ainda mandou embora quem achasse que essa era a missão dele na terra. Enigmaticamente disse que o pão era a sua carne e que a bebida era seu sangue. Muitos foram embora na hora. Restou apenas os doze e possivelmente os mais próximos.
Em seu tempo a Palestina era um barril de pólvora político tudo sob o poder impiedoso de Roma. Razões haviam para se fazer justiça principalmente aos mais fracos e oprimidos.
Ele tinha oportunidade de ficar de qualquer lado se o que chamava de justiça (Sermão do Monte) usasse como veículo alguma das posições á escolha. Em seu seleto grupo tinha um zelote (seita radical que aceitava matar o inimigo para expulsa-lo da terra santa) e um publicano (ex-funcionário cobrador de impostos corrupto e opressor do povo).
Ele vivia entre os mais pobres : camponeses, artesãos, pescadores, soldados, e disse que para os tais estava sendo pregado o Reino dos céus. Ele não era camarada dos sacerdotes e escribas de Jerusalém, e quando ia lá tinha problemas com eles. Quebrou as bancadas dos cambistas. Disse que o templo cairia. Pregava dentro, nas festas, quando templo estava lotado de peregrinos.
Mas no Sinédrio (tribunal judaico ocupado pela elite econômica e social da Judéia) deles tinha seguidores de Jesus como José de Arimatéia e Nicodemus. Isso mostra que Jesus não fechava as portas para quem o procurava por ser da classe A ou B. Ele não tinha ódio de ricos ou de classes. Amou um jovem rico que disse ser cumpridor de todos os mandamentos. Jesus disse para ele dar tudo aos pobres e segui-lo. O jovem não conseguiu. Então dinheiro não era a motivação de Jesus.
No grupo de seguidores de Jesus também tinha mulheres. Inclusive que algumas que o sustentavam financeiramente, pois ele e seu pequeno grupo só viviam nestes três anos cumprindo este ministério. Mas as Marias, largaram tudo para seguir o rabi.
Então quando o quiserem eleger como líder das massas oprimidas, de seus seguidores curados e tumultuadores da pax romana, ele não quis.
Aí começou a dizer que sua missão era chegar em Jerusalém e DAR sua vida. Esta missão inclusive não seria coisa da cabeça dele, mas como missão determinada por seu Pai. Ninguém entendeu.
Só depois da ressurreição, que também está nos quatro evangelhos, é que se vê um Tomé dizendo a ele : "Senhor meu e Deus meu!".
E até hoje é difícil entender. Porque é difícil enquadrar Jesus num molde da história que estiver acontecendo. Por isso, o colocam em cenários ou situações ás quais nos evangelhos, ele não se encaixa.
Os evangelhos são a base tanto para o Jesus da fé, quanto para o Jesus histórico. E nestes evangelhos ele é o que está lá.
A menos que se invente um Jesus tanto para a fé quanto para a história.
Aí vale tudo, ou pelo menos tudo que não tenha de responder a nada a não ser a si mesmo.
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